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Seis décadas de um gênio: Zico relembra vitórias, paixão e polêmicas no Flamengo

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Em entrevista ao ‘Jornal do Brasil’, Galinho abre o verbo e o coração

Henrique de Almeida

São 60 anos completados neste domingo (3). Para os torcedores do Flamengo e amantes do bom futebol, seria preferível que fosse eterno o auge de Arthur Antunes Coimbra com a camisa 10 da Gávea e da Seleção, como diz a letra do hino de Jorge Benjor.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Zico falou por mais de uma hora sobre as dificuldades do início da carreira, histórias do time multicampeão da década de 80 e os dramas que passou durante seus 46 anos dedicados ao futebol.

Zico começou a entrevista falando sobre a nova fase que vive na vida, de descanso e reflexão após seis décadas. Ele se definiu como estando “na idade da curva”, e definiu como prioridade aproveitar a infância dos cinco netos: Arthur Neto(filho de Arthur Júnior), Antônio e Felipe (filhos de Thiago Coimbra, filho caçula de Zico), Gabriel e Alice(filhos de Bruno Coimbra).

Zico durante entrevista na sede do CFZ; foco agora é acompanhar o crescimento dos netos

Zico durante entrevista na sede do CFZ; foco agora é acompanhar o crescimento dos netos

“É legal fazer isso, de brincar e sair com meus netos, porque eu não pude fazer isso muito com meus filhos. Quero devolver isso pra eles, e meus filhos sempre entenderam essa questão toda. E vamos combinar que quem viveu o tempo todo no esporte, na competição, tem que estar bem para poder acompanhar de maneira saudável o crescimento dos meus netos. São quatro homens, então a tendência vai ser de futebol”, diverte-se, lembrando de Felipe, neto mais velho:

“Ele tem cinco anos agora e está apaixonado por futebol, quer jogar e depois vai andar de bicicleta, brincar no parquinho. Tem que ter disposição pra não deixar nenhum netinho com inveja também”, analisa ele, com um sorriso no rosto.

Infância

ZICO_006Zico já teve essa idade, e passou pela infância apaixonado pelo Flamengo(graças ao pai, Seu Antunes, definido como “o maior comunicador da marca Flamengo na história”) e pelo futebol nas ruas de Quintino Bocaiúva, zona norte do Rio. Aos 14 anos, durante um torneio em que vestia a camisa do Santos no clube Ríver, Zico fez 10 gols na vitória de seu time por 14 x 4. Celso Garcia, radialista já famoso no Rio e rubro-negro fanático, levou-o para treinar na Escolinha do Flamengo. Zico lembra que esse fato impediu uma possível ida para o América, clube onde já jogavam seus irmãos, Edu e Antunes Coimbra.

“A primeira camisa que eu vesti foi a do América, num jogo do Infantil no Andaraí. Na semana que eu ia começar os treinos no América,  aconteceu isso tudo. Eu decidi, pedi licença ao Edu e ele disse: vai onde você achar que deve ir, a carreira é sua”, relembra Zico, que quase foi pro Vasco ainda no final dos anos 60. Ele conta que a rotina de sair de Quintino de madrugada, treinar na Gávea pela manhã e estudar no colégio Rivadávia Corrêa, na Central do Brasil, além da academia à noite, estava sendo dificultada pelo próprio Flamengo:

“No meio dessa correria toda, eu tinha que almoçar no Flamengo, e o clube não queria me dar esse almoço. Meu pai se aborreceu e me tirou do clube. O Célio de Souza, meu técnico na escolinha, tinha ido pro Vasco e queria me levar. Quando foi falado isso, o meu primo soube, alguém falou com o George Helal (presidente do clube). Ele me bancou pessoalmente o almoço e as passagens. Aí eu voltei pro Flamengo”, relembra Zico, que considera difícil que a ida para o maior rival realmente se concretizasse:

“Seria difícil eu ir para o Vasco porque meu pai tinha muito ódio do Vasco. Devido ao que aconteceu na vida dele, dele quase ter sido goleiro do Flamengo e o chefe dele na padaria onde trabalhava ter dito que, se ele jogasse futebol pelo clube, estaria na rua. Ele precisava do dinheiro e ficou por lá, mas tomou muito ódio do Vasco”, ri Zico.

Enquanto tentava a vaga no time profissional do Flamengo, Zico teve a primeira grande decepção na carreira: a não convocação para as Olimpíadas de 1972 deixaram o jogador muito decepcionado com o futebol. Sobre a possibilidade de o problema do irmão Nando com a Ditadura Militar ter causado a não convocação, assim como ter visto o irmão preterido na convocação para a Copa do Mundo de 1970, Zico pensa que a origem do problema é outra:

“O problema maior aconteceu com o meu irmão Antunes, que não foi convocado para a seleção Olímpica de 1964 porque o meu pai, seu Antunes, não aceitou assinar um contrato de gaveta com o Fluminense e, com isso, o cara que era militar, do Fluminense e da CBD, disse que ele também não iria pra Olimpíada. Em 1969 o Edu não foi, e tudo era comandado por militares. Se tivesse que ter acontecido alguma coisa, eu nem seria levado pro Pré-Olímpico de 1971. Não havia sentido me tirar por causa disso quatro ou cinco meses depois.  E não foi só comigo, mas minha família estava escaldada por conta de todas essas histórias”, disse ele.

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Títulos, dramas, glórias e histórias

Zico tornou-se titular do Flamengo no início de 1974, e teve um ano muito bom, com direito a título carioca, o prêmio da Bola de Ouro da revista Placar como melhor jogador do brasileiro e a quebra do recorde de gols em um mesmo ano pelo Flamengo, com 49 gols. Uma marca que, segundo Zico, foi quebrada “contra a vontade”. “Tinha que ser logo do meu ídolo Dida (46 gols em 1959)? Contra o Vasco que eu quebrei essa marca, e mexeu muito comigo. Cresci vendo o Dida jogar e arrebentar”, rememora, saudoso. A Copa de 1974, para ele, era uma chance que merecia pelo futebol praticado naquele ano. A base do time, porém, foi a campeã de 1970. Zico compara o ocorrido à não convocação de Neymar e Ganso em 2010. “Se Seleção fosse aquela coisa só de momento, eu merecia estar lá. Foi mais ou menos o que aconteceu com o Neymar e o Ganso em 2010. Eles tinham que estar lá, não era fogo de palha nem foguete, mas resolveram não levar”, analisa.

Em 1976, um jogo simbólico para a carreira de Zico. A final da Taça Guanabara rendeu o último jogo junto com o irmão Edu no Flamengo, o último gol do amigo Geraldo com a camisa do Flamengo e… um gol perdido na decisão por pênaltis. “Talvez tenha sobrado autoconfiança e faltado concentração. Foi uma lição. Ainda bem que devolvi com juros e correção nos anos seguintes. Imagina se eu não bato, bate outro e perde, imagina, iam me chamar de pipoqueiro”, defende-se Zico.

81_1199783dO título carioca de 1978, com participação de Zico no gol histórico de Rondinelli deu início à era mais gloriosa da história do Flamengo, que durou até 1983 e trouxe três títulos brasileiros, quatro campeonatos cariocas, uma Taça Libertadores e um Mundial Interclubes. Uma história curiosa mostra a importância de Zico naquele grupo, e aconteceu durante a fase final do Brasileiro de 1980, o primeiro conquistado pelo clube:

“Nunca joguei sem contrato. Naquela época, o pessoal deixava para renovar o contrato na última hora.  E o meu contrato, em 1980, terminava dois dias antes da final. A final era 1 de junho, e meu contrato terminava dia 30 de maio. Ganhamos o jogo contra o Coritiba fora de casa, e depois do jogo eu reuni os jogadores e o Coutinho (Cláudio, técnico do Flamengo) e falei: meu profissionalismo está acima de qualquer coisa, o Flamengo não renovou até agora. Mas eu gostaria de contar com a ajuda de vocês. Eu vou jogar na final, mas não gostaria que isso saísse daqui. Para o Flamengo e para a imprensa eu vou dizer que não vou jogar se o Flamengo não renovar o meu contrato.  Mas vocês podem ter certeza que jogar eu vou. Eles entenderam e assim foi feito. Não tinha jogado o primeiro jogo”.

Venda polêmica e infelicidade

Após o título brasileiro de 1983, em final com mais de 155 mil pessoas no Maracanã contra o Santos, a surpresa: Zico foi vendido para a Udinese, da Itália. O Galinho relembra com tristeza sobre toda a negociação com o clube italiano, encabeçada pelo presidente do clube à época, Antônio Dunshee de Abranches:

“Ele foi um bom presidente, mas ficou marcado como o cara que me vendeu. Ali, era a útima oportunidade do clube de receber dinheiro em troca do meu passe. Naquela época, a lei do passe dizia que pra você ficar livre, tinha que ter 32 anos ou 10 de clube, e isso eu tinha. Se eu renovasse, ia sair sem custo em 1985. Então criou todos os artifícios pra que eu fosse vendido, e jogou para a imprensa que eu estava dificultando a negociação. Acho que ele foi infeliz na forma que tratou o caso, fazer o que ele fez ficou chato”, analisa.

Após um período de dois anos na Udinese, Zico brigou com o presidente do clube e pediu para voltar ao Flamengo. Após cinco jogos em lua de mel com a torcida rubro-negra, veio o jogo fatídico contra Bangu pelo Campeonato Brasileiro. O empate em 0 a 0 foi deixado de lado pelo lance que mudou a trajetória da carreira de Zico:

81_1231478C“Ele foi mal orientado, tinham que me parar. Só que o louco do Márcio fez o que fez, e quase inutiliza a minha carreira, mas tive força suficiente pra encerrar minha carreira jogando. Não nos encontramos depois de 1987, e coitado, deram uma porrada nele também (em 1988) e ele se aposentou”, disse Zico, com expressão séria no rosto.

Em 1986, mais um pênalti no caminho de Zico: na partida contra a França, na Copa do Mundo, o Galinho começou no banco, e entrou já dando o passe para Branco sofrer o pênalti. Ele, que havia deixado Careca bater um pênalti na goleada de 4  a 0 sobre a Polônia, se defende dos que o consideram culpado pela perda da vaga na semifinal daquela Copa.

“Não me sinto responsabilizado pela perda da vaga, em nenhum momento. É uma chance perdida, mas um time que quer ser campeão tem que estar preparado pras dificuldades. Eu estava treinado. Desde o jogo contra a Polônia, um dos melhores aproveitamentos era meu e do Júlio César. O Sócrates também vinha bem, e todos perdemos. É do jogo”, defende-se Zico.

Título dramático

O Campeonato Brasileiro de 1987, vencido pelo Flamengo, é o maior exemplo de superação da carreira de Zico. O meia rompeu os pontos de uma cirurgia no joelho no último jogo da primeira fase, contra o Santa Cruz. Desde então, as dificuldades com o joelho avariado pela contusão em 1985 começaram a aumentar:

“Sabia que ia ter que fazer a cirurgia. Depois de 45 minutos, meu joelho bloqueava e eu não conseguia movimentar. Eu não podia treinar mais. Eram jogos quarta e domingo, então eu joguei contra o Atlético no sábado e descansei domingo, segunda, terça um pouquinho, jogava quarta… passei dias sem treinar pra jogar a final contra o Inter. No dia seguinte ao título, fui fazer cirurgia. Mas o título já estava ganho, a missão já estava cumprida”, satisfaz-se Zico, lembrando que, daquele time do Flamengo, só Ailton não serviu a Seleção Brasileira, sendo que cinco deles foram campeões em 1994: Jorginho, Aldair, Leonardo, Bebeto e Zinho.

Fim de carreira

Em 1989, Zico fez uma promessa a si mesmo: seria o último ano da carreira. As dificuldades para ele, que gostava de treinar, começavam a ficar insuportáveis. “Fiquei desanimado, com receio de fazer algo mais forte, sentir uma lesão no jogo.Terminei mesmo na final contra o Botafogo no Carioca. Mas como o  Gilberto Cardoso Filho (presidente) vendeu o Bebeto, ele me pediu pra ficar lá um tempo, mas eu pedi algumas datas para organizar minha despedida”, conta ele. O adeus aconteceu em 6 de fevereiro de 1990. “O Maracanã foi palco daquilo tudo. Era necessário que fosse ali, e foi na hora certa. Esse estádio era a minha segunda casa, me localizava fácil ali. Não é á toa que fiz 333 gols no estádio. E olha que eu não conto gol em Jogo das Estrelas, hein”, diverte-se o Galinho.

Bronca com Patrícia

Zico não esconde sua mágoa com Patrícia Amorim, presidente do Flamengo à época de sua atuação como dirigente de futebol do clube, entre junho e setembro de 2010. Para ele, a presidente “se escondeu” no trato com ele e revelou que o motivo maior da crise, um suposto favorecimento a atletas do CFZ, era na verdade um acordo que tinha sido assinado pela própria Patrícia Amorim:

“Estavam na mesa o Rafael De Piro(diretor jurídico), Marcos Braz (vice de Futebol), Michel Levy (vice de finanças), o Bruno (empresário e filho de Zico) e eu, como presidente de honra do CFZ.  O mínimo que ela poderia ter feito era dizer: quem assinou fui eu.  E ela se escondeu. O De Piro chegou a sugerir a alteração da data do documento. O vice jurídico do Flamengo fazendo um negócio desses! Foi uma coisa direcionada pra continuar o que já vinha acontecendo lá dentro do Flamengo. Isso ai foi um ato indecente, foi premeditado”, dispara Zico, que não concorda que teria sido ingênuo quando assumiu a posição dentro do Flamengo.

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“Não é questão de ser ingênuo. Queria ajudar. A Patrícia, quando era nadadora, cansou de pedir para ajudar nas rifas para recuperar a piscina do clube, e eu cansei de ajudá-la. E achei que ela, como atleta, poderia mudar alguma coisa. Mas fazendo tudo o que fez, fica aquele papo: “Tá vendo? Atleta só serve pra ser atleta”, lamenta o Galinho.

O negócio entre Flamengo e CFZ consistia em o rubro-negro utilizar as instalações do CFZ e na facilidade de utilização da estrutura do CFZ tanto para recuperar jogadores afastados do elenco quanto para contratar algum atleta que estivesse se destacando no CFZ. Zico conta que a situação da base, quando chegou ao Flamengo, era lamentável:

“O Flamengo era barriga de aluguel, tinha empresário com 14 jogadores no elenco da base. Tinha titular que nem pertencia ao Flamengo, e a parceria foi para mudar isso. Quando esse contrato foi feito, eu não era nem presidente do CFZ nem nada no Flamengo. O Flamengo pagava um aluguel de 8 mil reais que não pagava nem a luz daqui. E se fosse o contrário, jogadores virem pra cá, se o CFZ conseguisse alguma negociação, só ai o CFZ tinha direito a metade”, explicou o Galinho, que relatou que após o pedido de demissão, se reuniu com todos os jogadores, a comissão técnica e a presidente.

“Disse tudo o que queria dizer e mais um pouco. Ela poderia explicar o lado dela, dizer o que pensava sobre tudo aquilo, e não me disse nada. Abaixou a cabeça e ficou quieta. “O que ela disse depois sobre mim não importa, ela tinha que falar frente a frente comigo”, disse Zico, que ainda provocou:

“Quem causou mais prejuízo ao Flamengo? Eu, que cheguei lá sem nenhum atacante e tentei fazer contratações com o que tinha no mercado na época, ou ela, que contratou o Ronaldinho Gaúcho? Não dá para dizer que a contratação do Ronaldinho foi um sucesso. E eu no Flamengo fui colocado para Cristo”, analisou ele.

Assim que a entrevista se encerra,  no entanto, a indignação de poucos segundos antes se transforma no sorriso do garoto criado no subúrbio, do jogador forjado na Gávea e que fez do Maracanã, do Brasil, do mundo, um palco de sua glória. Uma glória que, apesar da estátua do ídolo que hoje repousa na Gávea, é pouco para representar a obra do Galinho de Quintino no futebol.

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Praça dos Três Poderes passará por revitalização; edital é anunciado

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A Praça dos Três Poderes, um dos pontos turísticos mais conhecidos de Brasília, será restaurada. O Ministério da Cultura (MinC), por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), anunciou nesta segunda-feira (22) o edital de licitação para contratação do projeto.

Projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), a praça abriga os edifícios-sedes dos Três Poderes da República: o Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo Federal; o palácio do Supremo Tribunal Federal (STF), sede da Corte máxima do Judiciário; e o palácio do Congresso Nacional, sede do Legislativo Federal.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou a importância do espaço que integra a estrutura central de Brasília, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“Essa praça é um tesouro, é a mais importante do país e precisa [da restauração], porque ela tem várias coisas a serem reformadas, como a questão do piso, algumas áreas não alinhadas, a iluminação e outras necessidades de reformas. E a degradação, depois do 8 de janeiro [2023]”, lembrou Margareth Menezes, em referência ao ataque e invasão das sedes.

Sobre o 8 de janeiro, o presidente do Iphan, Leandro Grass, explicou que os vândalos que tentaram o golpe de Estado arrancaram pedras portuguesas do piso e as arremessaram contra os monumentos, placas do local e vidraças dos prédios públicos. Leandro Grass citou a retirada, em fevereiro deste ano, das grades que cercavam a praça, como um gesto de reaproximação e de volta à normalidade democrática.

“As grades também sinalizavam um pouco esse afastamento e trouxeram a necessidade de a gente fazer o movimento contrário. Com essa retirada, a gente quer o povo aqui. Então, restaurar a praça é também restaurar a autoestima do povo de Brasília, de todos os brasileiros e restauro do sentido daquele lugar, que tem que ser da ocupação cultural e da ocupação social”, ressalta Grass.

Restauração

O projeto de restauração vencedor do edital deverá incluir a recuperação de estruturas comprometidas; piso novo de pedras portuguesas; restauro das obras de arte desgastadas; recuperação do Museu da Cidade; reforma do Espaço Lúcio Costa; iluminação da praça e dos monumentos; acessibilidade para pessoas com deficiência e baixa mobilidade; drenagem para evitar poças d’água e infiltrações; instalação de câmeras de segurança e substituição de placas de sinalização.

Nesta primeira fase, o projeto deve custar R$ 993 mil e será financiado com recursos públicos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Seleções, o programa de investimentos do governo federal. Outro valor para a realização da obra ainda será estipulado, a depender do projeto vencedor.

Os monumentos e obras de arte da Praça dos Três Poderes previstos para serem restaurados são: a obra Dois Candangos; a estátua A Justiça; o Pombal; o Museu da Cidade; o Espaço Lúcio Costa; o Marco Brasília; a escultura Cabeça do Presidente JK, em homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902–1976); além das estátuas em bronze do construtor de Brasília, o engenheiro Israel Pinheiro; e do líder da Inconfidência Mineira Tiradentes.

O governo federal estima que o vencedor será conhecido até fevereiro de 2025. Após esta etapa, o governo do Distrito Federal, gestor do espaço público, poderá fazer a licitação para contratar a construtora. Ainda não há previsão de entrega da restauração completa, porque dependerá do cumprimento das etapas do projeto. De acordo com o Iphan, também não está definido se a Praça dos Três Poderes será integralmente fechada ao público no decorrer das obras.

O superintendente do Iphan no Distrito Federal, Thiago Pereira Perpetuo, explicou à Agência Brasil que o instituto fiscalizará a evolução e entrega total da obra, desde a escolha do projeto. “Somos os fiscais dessa entrega, do projeto em si. Nós iremos orientar a empresa exatamente para fazer aquilo que deve ser feito, para já garantir que seja um projeto adequado do ponto de vista de todas as normas, inclusive as do patrimônio mundial.”

Turismo

A necessidade de reformas da Praça dos Três Poderes e a falta de manutenção são apontadas como os principais problemas pelos turistas e ambulantes.

À Agência Brasil, o vendedor de miniaturas de edifícios e estátuas de Brasília e ímãs de geladeira há quase duas décadas, Antônio Monteiro, diz que o ponto turístico precisa ser mais cuidado. “A praça é muito bonita. Mas, precisamos de uma reforma, arrumar e evitar os carros aqui em cima, como os carros e ônibus da polícia do DF e dos militares. Nossa Brasília é muito bonita. Só falta cuidar um pouco mais dela.”

Vindo de Londrina (PR) para visitar um parente, o professor de inglês Johnny Esteves reclamou da sujeira no local. “É muito legal ver a arquitetura do [Oscar] Niemeyer de pertinho, é impactante. Mas, o restante deixa a desejar, em especial, a calçada e a limpeza”. Ao lado dele, a advogada Giovana Esteves diz ter a sensação que o espaço está abandonado. “Essa é a capital do país. A manutenção deveria ser rápida, breve, para não dar essa sensação de abandono. A estrutura como um todo é linda e a arquitetura, deslumbrante, mas a manutenção do dia a dia é o que daria mesmo a boa impressão.”

Em outra ponta da Praça dos Três Poderes, os visitantes de São Paulo também estavam decepcionados com alguns aspectos. “A praça é bonita, mas podia ficar ainda mais. Reparei, por exemplo, no piso que está bem largadinho, com remendos e mato”, contou o profissional autônomo David Cruz de Souza

Praça dos Três Poderes

Localizada no fim da Esplanada dos Ministérios, atrás do Congresso Nacional, a Praça dos Três Poderes foi idealizada pelo urbanista Lúcio Costa (1902-1988) e inaugurada em abril de 1960, junto com a capital federal. 

Com o piso de pedras portuguesas, a praça reúne as esculturas Os Candangos, considerada símbolo de Brasília; A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, de granito que decora a frente ao STF; a Pira da Pátria e o Marco Brasília, pelo reconhecimento de Brasília como patrimônio mundial.

Na parte mais próxima ao Congresso Nacional, está o Museu Histórico de Brasília ou Museu da Cidade, com a escultura de pedra-sabão da cabeça de Juscelino Kubitschek. Do outro lado, a leste, fica o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, um memorial cívico, em formato de pomba branca, destinado a homenagear heróis e heroínas nacionais.

A paisagem mais visível da praça é o Mastro da Bandeira, de 100 metros de altura, onde todo primeiro domingo de cada mês a bandeira é substituída em uma cerimônia.

A poucos metros do Palácio do STF, encontra-se ainda o Pombal, uma escultura em concreto de Niemeyer. No fundo da praça, a Casa de Chá, também projetada por Oscar Niemeyer e tombada pelo Iphan como patrimônio histórico, é, atualmente, usada como Centro de Atendimento ao Turista e fica semi enterrada na praça pública.

Outro lugar, o Espaço Lúcio Costa, aberto em 1992, está situado sob o piso da praça. No acervo, os visitantes podem ver uma maquete de Brasília, com 179 m², além de fotos históricas da época da construção e inauguração da cidade.

Mesmo o Espaço Oscar Niemeyer, localizado na parte posterior da Praça dos Três Poderes, no Bosque dos Constituintes, é considerado como parte da praça. Nesta edificação cilíndrica, com área de 433 m², podem ser vistos trabalhos (painéis, desenhos e fotos) que representam as obras do principal arquiteto da nova capital. O espaço não está contemplado no projeto de restauração.

Fonte: EBC GERAL

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RJ: passageiro fuma escondido em banheiro de ônibus e causa incêndio

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Carcaça do ônibus queimado após incêndio ser controlado pelo Corpo de Bombeiros na madrugada de segunda-feira (22)
Divulgaçãp / Polícia Rodoviária Federal (PRF) – 22/04/2024

Carcaça do ônibus queimado após incêndio ser controlado pelo Corpo de Bombeiros na madrugada de segunda-feira (22)

Um passageiro de 67 anos causou um incêndio em um ônibus depois de fumar escondido no banheiro do veículo. O caso aconteceu na madrugada desta segunda-feira (22), em Piraí (RJ) e foi informado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Entenda o caso

O acidente aconteceu na altura da Serra das Araras, no km 228 da Via Dutra, sentido São Paulo e ninguém se feriu.

Antes de sair do banheiro, o passageiro tentou se desfazer da bituca do cigarro jogando-a pela janela, mas ela ainda estava acesa e incendiou a espuma sintética da carroceria.

Quando percebeu o fogo, o motorista parou o ônibus no acostamento e todos os passageiros foram retirados. Algumas malas foram recuperadas, mas outras foram consumidas pelas chamas.

O fogo foi controlado após duas horas de trabalho do Corpo de Bombeiro. O trânsito no local foi liberado ainda de madugada, depois que tudo foi resolvido.

Fonte: Nacional

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Indígenas prometem seguir lutando por demarcação de terras

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A recente homologação de duas áreas da União para usufruto exclusivo de comunidades indígenas não apaziguou as queixas pela demora do Estado em reconhecer e delimitar os territórios tradicionais.

“Vamos continuar lutando. Vamos continuar brigando pela demarcação das terras”, declarou um dos coordenadores-executivos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna.

A declaração foi durante coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (22), dentro da programação do 20º Acampamento Terra Livre (ATL) – mobilização indígena que, anualmente, reúne milhares de participantes, de centenas de etnias, em Brasília.

Na última quinta-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou os decretos de homologação de dois territórios: Aldeia Velha, na Bahia, e Cacique Fontoura, em Mato Grosso. A iniciativa, às vésperas do Dia dos Povos Indígenas, frustrou a expectativa de parte do movimento indígena, que esperava o reconhecimento federal de outros quatro territórios.

Durante a cerimônia de assinatura dos decretos, o próprio presidente afirmou que a decisão de não homologar os seis territórios foi política.

“Sei que isso frustrou alguns companheiros e algumas companheiras, mas fiz isso para não mentir para vocês, porque temos um problema, e é melhor a gente tentar resolver o problema antes de assinar”, disse Lula, diante de dezenas de indígenas.

Segundo o presidente, entre os problemas identificados nas quatro áreas não homologadas está a ocupação por não indígenas. Lula admitiu ter atendido a um pedido de governadores.

“Temos algumas terras ocupadas por fazendeiros, outras por gente comum, possivelmente tão pobres quanto nós. Tem umas que têm 800 pessoas que não são indígenas ocupando. Tem outras com mais gente. E tem alguns governadores que pediram mais tempo para saber como vamos tirar essas pessoas, porque não posso chegar com a polícia e ser violento com as pessoas que estão lá”, acrescentou o presidente, na ocasião.

Duas das quatro áreas que o governo federal optou por não homologar, apesar do Ministério da Justiça e Segurança Pública já ter emitido as devidas portarias declaratórias, ficam em Santa Catarina.

Segundo Kretã Kaingang, também coordenador-executivo da Apib, o reconhecimento do direito indígena às duas áreas é uma “questão de honra” para o movimento.

“A morosidade por parte do governo nos deixa nesta situação. Como organização indígena nacional e representativa da região, não podemos ver nossos parentes ser mortos e não darmos uma resposta a nossas bases. Enquanto não conseguirmos arrancar estas duas homologações, não vamos sossegar. Não vamos deixar este governo dormir. E seria bom sairmos deste acampamento ao menos com estas [duas] homologações que, para nós, são estratégicas”, afirmou Kretã.

As críticas do movimento indígena à atual gestão federal ganharam peso já em novembro de 2023. Na época, a Apib criticou o governo por ter aceitado, sem resistência, que o Congresso Nacional derrubasse os vetos presidenciais ao Projeto de Lei nº 2.903, que estabeleceu o chamado Marco Temporal – tese jurídica segundo a qual os indígenas só tem direito aos territórios que ocupavam em outubro de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

No último dia 15, a organização desaprovou a sugestão do presidente Lula para que o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, encontrasse interessados em vender suas terras para acomodar parte dos indígenas que permanecesse acampado à margem das rodovias que cortam o estado ou em áreas em disputa. A proposta é que os governos federal e estadual sejam “parceiros” na eventual aquisição de áreas a fim de “recuperar a dignidade desse povo”. 

“Não é batendo papinho com governador, não é comprando terra, que se vai se garantir o direito constitucional dos povos indígenas aos seus territórios originários”, comentou Kleber Karipuna, hoje. “O rito da demarcação não prevê conversinha com governadores. Pelo contrário. O Decreto nº 1.775 [estabelece] um prazo de 90 dias para que, uma vez publicados os estudos [de delimitação territorial], qualquer cidadão ou entidade conteste os resultados. Não há nenhuma outra fase, dentro do processo, de conversinha com governador ou prefeito, como também não há [previsão] para a compra de terras”.

Homologações

Consultado sobre as críticas, o Ministério dos Povos Indígenas respondeu que, desde o início de 2023, o governo federal já homologou dez terras indígenas – quase o mesmo número (11) que nos dez anos anteriores. Segundo a pasta, o resultado é fruto da “forte retomada de homologações” implementada pela atual gestão.

“É importante ressaltar que esse é um trabalho complexo e que demanda estrutura e articulação para que as ações de demarcação e homologação ocorram de maneira célere, com segurança para todos”, acrescentou o ministério ao garantir que vem atuando junto a outras instâncias para resolver “questões pontuais e problemáticas dos territórios” reivindicados.

“O MPI está implementando novos planos de gestão para ampliar as respostas às demandas dos povos indígenas. Um passo importante foi dado na semana passada com a retomada do Conselho Nacional de Política Indigenista, instalado pelo governo federal, e que facilitará ainda mais o diálogo permanente e o acompanhamento cada vez mais próximo das questões dos povos indígenas”, acrescentou o ministério.

Para Dinamam Tuxá,  também coordenador da Apib, os esforços elencados pela pasta ainda não são suficientes.

“Elaboramos uma carta prévia para os três Poderes [Executivo, Legislativo e Judiciário] na qual apontamos 24 demandas emergenciais. O eixo central é a política de demarcação. Estamos cobrando principalmente a homologação de terras”, disse Dinamam, lembrando que o governo assumiu o compromisso de demarcar 14 terras indígenas nos 100 primeiros dias de gestão. De acordo com ele, os povos querem ainda a finalização de 23 processos demarcatórios que estão aptos, reforço da política de desintrusão das áreas homologadas e fortalecimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). 

Fonte: EBC GERAL

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