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Acre

‘Tento perdoar’, diz mulher que teve seis filhos com o próprio pai no AC

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Júlia foi resgatada em 2012 e hoje vive com os filhos em uma casa alugada.
‘Eu não sabia que era errado’, defende-se acusado.

Júlia com os seis filhos que teve com o pai (Foto: Tácita Muniz/G1)

Júlia com os seis filhos que teve com o pai (Foto: Tácita Muniz/G1)

G1

Há quase três anos, Júlia Pinheiro das Chagas, de 31 anos, foi resgatada pela polícia na comunidade Lago dos Paus, no Rio Gregório (AM). Atualmente ela mora em uma casa alugada com seis filhos, frutos de uma relação incestuosa que manteve por anos com o seu pai, João das Chagas Ribeiro Mourão, de 66 anos. Há dois, ele cumpre a sentença no regime fechado no presídio Manoel Neri, em Cruzeiro do Sul, distante 648 quilômetros da capital acreana. As marcas do passado ainda fazem Júlia chorar.

A dona de casa conta que vive com a ajuda de Aluguel Social, oferecido pela prefeitura da cidade, que abriga ela e os seis filhos. Tímida e com o vocabulário restrito, Júlia relembra a vida que tinha ao lado do pai. “Eu engravidei oito vezes, mas os dois mais velhos morreram. Eu não sabia que era errado, não entendia nada disso. Só percebi que tinha algum problema quando meus filhos começaram a ter deficiência, sabia que eles não eram normais”, conta.

Engravidei oito vezes, mas os dois mais velhos morreram. Eu não sabia que era errado”

Júlia Pinheiro

Das seis crianças, a que apresenta o estado mais crítico é o filho de 6 anos. Ele não anda devido à uma deficiência motora e também apresenta uma espécie de descamação na pele. Outra filha, uma garotinha de 11 anos, também apresenta dificuldades de relacionamento.

“Têm dias que a minha filha passa o dia sem comer, não fala com a gente. Fica pelos cantos, acho que ela tem uma lembrança bem forte de tudo que aconteceu”. Durante a entrevista, a menina não chega a comentar nada. Após conversa com a mãe, ela confessa que não gosta de ir nem mesmo à escola por conta das muitas pessoas que têm que enfrentar. Sobre as lembranças do que viveu com seu pai/avô, ela prefere o silêncio.

Questionada se um dia pretende reencontrar o pai, Júlia diz que tenta aos poucos perdoar o que João fez com ela e com as crianças. “Eu penso em procurá-lo para que ele possa ver as crianças, porque quando ele foi preso, nossos filhos eram todos bem pequenos. Tive muita raiva dele, mas agora estou tentando esquecer. Posso até perdoar, porque quem quer o perdão, perdoa. Mas, às vezes que é difícil falar”, diz emocionada.

A dona de casa relembra que quando vivia com o pai não tinha contato com ninguém, pois João a fazia guardar segredo sobre a vida a dois. “Eu não ia à cidade e ele pedia muito que eu não contasse para ninguém que ele era meu pai”, conta.

Ao G1, a mulher diz que tenta não conversar com os filhos sobre o que aconteceu e acredita que os meninos não sintam saudades do pai que, segundo ela, batia tanto em Júlia como nas crianças. No dia do resgate, em 2012, ela recorda nitidamente como a polícia chegou.

“A gente estava cuidando da farinha e eu estava dentro de casa porque ele tinha acabado de me bater, ele batia muito a minha cabeça na parede da casa”, alega. Ao lado dos seis filhos, Júlia não contém as lágrimas ao ver a foto do pai dentro da cadeia. À reportagem, ela diz que o choro é de raiva e mágoa de tudo o que aconteceu, mas ela repete entre lágrimas que perdoaria João.

Desde o acontecido, Júlia diz que não tem mais contato com a mãe e nem sabe se ela está viva. Segundo ela, a mulher mora em uma comunidade às margens do Rio Tarauacá.

O G1 também tentou encontrar informações sobre a mãe de Júlia, mas foi informado pela Delegacia da Mulher, que presidiu o inquérito que o endereço da mãe de Júlia está registrado como indeterminado.

João alega que Júlia não é sua filha de sangue e diz que incesto é comum na comunidade em que vivia (Foto: Tácita Muniz/G1)

João alega que Júlia não é sua filha de sangue e diz que incesto é comum na comunidade em que vivia (Foto: Tácita Muniz/G1)

Ela não é minha filha’
Aos 66 anos, João está há quase 3 dentro do presídio. Durante este período, nenhuma visita ao acusado foi registrada. Por meio de uma autorização da justiça, o G1 entrou no presídio Manoel Neri e ouviu a versão do produtor rural que viveu com a filha entre os anos de 2002 a 2012. Em sua defesa, ele afirma que Júlia não é sua filha de sangue. No entanto, não pediu exame de DNA para provar o que diz. Na certidão de nascimento de Júlia, não há informações sobre a mãe, apenas dados de João.

A culpa que eu tenho, ela tem também. Porque ela saía da rede dela para ir para a minha.”

João das Chagas

“Eu nasci e me criei na mata, não sabia o que era crime e nem justiça. Eu só vi que tinha errado depois que a polícia bateu nas minhas terras e agora pago pelos meus erros. Mas, ela não é minha filha de sangue, eu que criei, mas a mãe dela me disse que o pai da Júlia é um homem que mora em outra cidade”, defende-se.

Mesmo com a alegação, ele diz que não há documentos que provem que não existe essa ligação sanguínea. Ele apenas confia na palavra da mulher em que era casado. Sobre as agressões contra os filhos e Júlia, ele nega. “Esse crime eu não tenho. Quero que Deus mande um castigo para as minhas mãos caírem se algum dia eu bati em uma daquelas crianças ou nela”, diz.

Hoje, cumprindo uma sentença de 22 anos de prisão, João se diz arrependido. “Já chorei, chorei mesmo. Queria ver meus filhos. Desde que fui preso, não tive nenhum contato com eles”, desabafa.

Júlia diz que todos os filhos apresentam alguma deficiência física ou mental (Foto: Tácita Muniz/G1)

Júlia diz que todos os filhos apresentam alguma deficiência física ou mental (Foto: Tácita Muniz/G1)

O relacionamento
João conta que passou a se interessar pela filha quando ela tinha 20 anos. Porém, ele alega que os anos vividos com a filha foram com o consentimento dela. “A culpa que eu tenho, ela tem também. Porque ela saía da rede dela para ir para a minha. Eu nunca fui atrás dela, tanto que na primeira vez que ela foi na minha rede, eu não quis fazer nada, mas na segunda, eu fiz o serviço”, alega.

Nesse período, ele diz que já estava separado de sua mulher e morava com um filho nas terras no seringal Bacurim, no Amazonas. Sobre a relação com seus filhos/netos, ele conta que sempre os tratou bem. “Não deixava faltar alimento, quero bem meus filhos”, destaca.
João também alega que não sabia que era errado viver maritalmente com a própria filha e ressalta ainda que casos assim eram comuns. “Onde eu morava, não era somente eu que cometia esses erros. Lá tem muita gente que vive com sobrinhas e filhas. Naquele seringal estava sendo muito comum”, garante.

João chora ao ver as fotos dos filhos e de Júlia durante a entrevista (Foto: Tácita Muniz/G1)

João chora ao ver as fotos dos filhos e de Júlia durante a entrevista (Foto: Tácita Muniz/G1)

Visitas
Sem receber nenhuma visita, João diz que sofre com o abandono dos outros filhos. “Fica difícil, porque eu sou uma pessoa doente e não tem quem me ajude, quem pode me ajudar são meus filhos, mas eles não vêm me visitar”, lamenta.

Para cumprir pena no regime semiaberto, João precisa ficar oito anos e oito meses no fechado. Ao ser questionado se ele acredita que sairá com vida da cadeia, ele é categórico. “Está nas mãos de Deus. Eu pretendo, se eu sair, voltar para as minhas terras, lá ficou tudo abandonado”.

A condenação de João reúne estupro, atentado ao pudor, sequestro, constrangimento à mulher e crimes contra a assistência familiar, configurado pelo abandono intelectual. Ele está preso desde o dia 13 de julho de 2012, mesmo mês que Júlia foi resgatada na comunidade do Rio Gregório.

Antes de voltar para a cela, a equipe mostra fotos dos filhos de João, que chora compulsivamente por alguns minutos. Entre lágrimas ele diz: “é difícil, gostaria muito de ver meus filhos”, finaliza.

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Acre

Judiciário acreano realiza 10ª edição do Projeto Cidadania e Justiça

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O objetivo do projeto é levar conhecimento aos alunos sobre justiça e cidadania, além de seus direitos e deveres, para poderem ser agentes multiplicadores de informações, através da sabedoria adquirida

O projeto Cidadania e Justiça, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), destinado aos estudantes do 5º ano do ensino fundamental dos municípios do Estado, chega a 2024 realizando a sua 10ª edição.

Na última semana, a equipe da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ), dirigida pela desembargadora Waldirene Cordeiro, realizou reunião de alinhamento com as coordenadoras e coordenadores das escolas estaduais e municipais, que neste ano conta com 12 instituições de ensino e acontece nos dias 7 a 23 de maio.

O objetivo é levar conhecimento aos alunos sobre justiça e cidadania, além de seus direitos e deveres, para poderem ser agentes multiplicadores de informações, através da sabedoria adquirida. O conteúdo também aborda noções de bullying, crimes pela internet, a Lei Maria da Penha, o meio ambiente, as relações homoafetivas, alienação parental, guarda compartilhada e a Justiça Restaurativa.

O projeto conta apoio institucional da Associação dos Magistrados do Acre (Asmac), Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), Rede de Proteção à Infância e Juventude, municípios do Estado, pela Secretaria Estadual e Municipal de Educação, com a participação de magistrados, promotores de Justiça e colaboradores, bem como outros parceiros governamentais e não governamentais.

Fonte: Tribunal de Justiça – AC

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Acre

Presidente do TJAC recebe visita do prefeito de Jordão

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Terá lançamento das novas instalações do Centro de Justiça e Cidadania (Cejuc) e a instalação Ponto de Inclusão Digital da Justiça (PIDJus) em Jordão

A desembargadora-presidente do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), Regina Ferrari, recebeu na última quarta-feira, 11, o prefeito de Jordão, Naudo Ribeiro, que veio agradecer a parceria e a realização de mais uma edição do Projeto Cidadão, que neste ano, acontece nos dias 26 e 27 de abril, véspera do aniversário de 32 anos do município.

O prefeito veio acompanhado com sua equipe e destacou que a população do município está aguardando com grande expectativa a oferta de importantes serviços públicos da área social, saúde, educação, meio ambiente, segurança e trabalho.

A edição deste ano, acontece nos dias 26 e 27 de abril e conta com a parceria do Ministério Público Estadual (MPAC), Defensoria Pública (DPE), o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Regional (TRT 14ª) e o Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC).

Fonte: Tribunal de Justiça – AC

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Acre

Epitaciolândia: Prefeitura avança na recuperação de ramais, comunidade do Baixa Verde é atendida

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Dando sequência ao programa de recuperação de ramais, a prefeitura de Epitaciolândia avança na recuperação de ramais e reconstrução de pontes, os serviços de limpeza e piçarramento já estão sendo concluídos no Ramal da Baixa Verde.

Dezenas de famílias estão sendo atendidas, além disso, vai garantir o transporte escolar, segundo o prefeito Sérgio Lopes, a meta é aproveitar bem o verão e avançar cada vez mais.

“Estamos trabalhando de forma intensa na recuperação de pontes e melhoramento de ramais, estamos concluindo os serviços de limpeza e piçarramento do ramal da Baixa Verde, além disso, estamos trabalhando em outros ramais e reconstruindo várias pontes para garantir o direito de ir e vir e o escoamento da produção aos nossos produtores rurais. ” Pontuou

 

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