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Acre

Um choque de realidade

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Por Jorge Natal ESPECIAL PARA ac24horas

Elder Andrade de Paula, 55, é o que se pode chamar de intelectual engajado, uma espécie em extinção nos dias de hoje. Ele considera importante seu papel como pensador, mas também é um homem de ação, não se conformando em apenas interpretar o mundo, mas em transformá-lo, participando ativamente de lutas populares.

Professor-doutor da Universidade Federal do Acre (Ufac), proferiu, na manhã desta quarta-feira, na 66º Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SPPC), uma palestra cujo tema é objeto de seu estudo: “Do progresso Que Mata e Destrói”. O evento, prestigiado por pesquisadores renomados do todo o pais e populações tracionais, é também “um tributo à resistências dos povos da Amazônia”.

Crítico da chamada “economia verde” e da instrumentalização do discurso científico para esse fim, ele afirma que se acelerou um processo de destruição em larga escala na Amazônia, exemplificando com o enorme desastre produzido pelas hidrelétricas no rio Madeira e a possiblidade de prospecção de gás de xisto no Alto Juruá.

Crítico do sistema político-econômico brasileiro e amazônico, o professor ‘mete o dedo na ferida’: “o desenvolvimento sustentável apregoado mundo afora é mentira, um acinte à inteligência das pessoas”, sentencia Elder, que, junto a outras pessoalidades, entregou às autoridades do Rio + 20 o “Dossiê Acre”. O documento é uma crítica ao modelo econômico do Acre, que, além de insustentável, só beneficiou os madeiros e agropecuaristas, segundo ele. “Enquanto isso 18% da população acreana vive abaixo da linha de pobreza”, exemplifica.

Ex-membro do Partido Comunista (PRC), foi um crítico do Socialismo Real, regime que, após a queda no final da década de 80, deu um baque na esquerda mundial. “Apesar do anacronismo, ficamos sem parâmetros e tivemos que reinventar a esquerda”, lembra o professor, citando uma frase do escritor alemão Von Gothe: “É preciso mudar o mundo. Depois mudar o mundo mudado”.

Se Elder Andrade não vê o capitalismo como um sistema moribundo, também não concorda com a tese do escritor nipo-americano, Francis Fukuyama, que o interpreta como algo triunfante, ou seja, acabaram-se os processos históricos caracterizados como processos de mudança. Como pensador, ele jamais aderiria ao que se convencionou chamar de o fim da história.

Embora não esteja filiado a nenhum partido (nem deseja), o professor acredita e luta por um “projeto de nação”, cujo povo soberano deve incansavelmente buscar a justiça social, a democracia e felicidade. “A escola e/ou a academia são instituições a serviço da transformação”, assim concebe ele, que é Pós-Doutor em Ciências Sociais e um dos intelectuais mais respeitados do Acre.

Defensor da autonomia dos movimentos sociais, ele propõe a cooperação e parceira na relações com os trabalhadores e demais segmentos sociais. Helder também homenageia às vítimas do “progresso” e chama a atenção para outras perspectiva emancipatórias, sempre acreditando ser possível criar uma nova cultura política, legitimada no diálogo.

No auditório da Associação dos Docentes do Acre (Adufac), ele recebeu o repórter Jorge Natal, contratado por ac24horas para fazer uma reportagem especial sobre o evento.

Veja a entrevista exclusiva

ac24horas – O que significa o tema dessa palestra “Do Progresso Que Mata e Destrói”?

Elder Andrade – A SBPC, sempre que realiza seus eventos como o tema Amazônia, procura afirmar a ideia de que os problemas regionais, para serem resolvidos, carecem de mais investimentos em ciência e nas instituições voltadas para a pesquisa para, assim, garantir o progresso da região. Todavia, o que estamos vendo neste país e na América Latina, e na Amazônia, em particular, é que a aceleração do progresso trás no seu rastro destruições monumentais, seja dos bens naturais seja dos povos tradicionais. E a ciência, ao logo dos anos, tem sido tem sido instrumentalizada para fazer valer os interesses dos capitais privados que se apropriam dos bens naturais dessa região e ainda matam suas populações. Este evento é um tributos a esses povos que resistem há mais de 500 anos.

ac24horas – O que o senhor espera colher desse evento que está incluído na programação da reunião da SPPC?

Elder Andrade – Em especial, queremos chamar a atenção para a gravidade que a Amazônia vive hoje e, ao mesmo tempo, despertar corações e mentes para somar nessa luta com os povos indígenas, camponeses e população pobre que mora nas cidades, que têm sofrido com processo de destruição acelerado pela economia verde, ou seja, a exploração madeireira e a mercantilização da natureza, os Red´s da vida, que são expropriação de territórios, criando uma nova forma de dominação na Amazônia.

ac24horas – O senhor afirma que nas últimas décadas a destruição foi triplicada. Explique isso?

Elder Andrade – As bases disso estão na tese de doutorado de 2003, cujo título é Estado e Desenvolvimento Insustentável. Naquele auge do desenvolvimento sustentável eu dizia que era insustentável, o que pode ser comprovado nos dias de hoje. Isso foi reproduzido no Acre e resultado está nas estatísticas do IBGE. Quase 50% das vivem de bolsa miséria, o rebanho bovino saltou de 800 mil cabeças para quase três milhões agora. A exploração madeireira quadriplicou, entre outras atividades predatórias, sem contar que estamos ameaçados pela possível exploração de gás de xisto.

ac24horas – O que significa ganhar conservando e ganhar destruindo?

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Elder Andrade – Ganhar destruindo são atuais planos de manejo. Ganhar conservando são os projetos de captura de carbono. Os países poluidores compram cotas de carbono nossas, impedindo que o extrativista sequer faça uma coivara. A lógica de tudo isso é ganhar destruído. Os países ricos vão continuar poluindo e engessando qualquer possiblidade das populações tradicionais melhorarem de vida. Quem vai ganhar dinheiro são os que tiverem a propriedade das terras. Por que ainda não demarcaram as 21 terras indígenas do Acre? Estão vendo tudo, inclusive o ar. Chamo isso de neocolonialismo.

ac24horas – O senhor e outras pessoas escreveram um documento, o Dossiê Acre, no qual criticam e denunciam o atual modelo de economia para Amazônia, o chamado desenvolvimento sustentável. Comente sobre isso?

Elder Andrade – Desenvolvimento sustentável é a promessa, feita desde 1992, de que as coisas mudariam se fosse adotadas um conjunto de técnicas no modelo produtivo. O grande bordão era que podíamos suprimir as necessidades do pressente sem comprometer as gerações futuras. Passados 20 anos e eles esconderam a cereja do bolo. Muito propaganda e mundo ficou mais destruído de lá pra cá. O Acre é um engodo. A pecuária a exploração irracional cresceram vertiginosamente nas últimas décadas. Esses setores ganharam muito dinheiro destruindo. E o que é ainda pior: sem gerar divisas para a nossa combalida economia. Trata-se de um desenvolvimento insustentável. Todos os indicadores econômicos e sociais corroboram isso.

ac24horas – E o zoneamento ecológico-econômico do Acre?

Elder Andrade – Atende aos interesses do banco mundial e dos países ricos

ac24horas – Como o senhor analisa o pensamento triunfalista do escritor Francis Fukuyama, segundo o qual o capitalismo se consolidou como sistema de produção?

Elder Andrade – É a tese do fim da história. O capitalismo sempre se readequou aos seus tempos. O sistema já foi comercial, industrial, especulativo e agora, na era da informação e tecnologia, está com outra roupagem. A luta de classe de hoje não é mesma formulada na época de Marx, no capitalismo da primeira Revolução Industrial. No mundo contemporâneo, existem novas classes porque se formaram novas elites. No Brasil existe no topo da pirâmide com 5% de abastados. Os demais estão na linha (ou abaixo) da pobreza. Isso vai gerou e vai continuar gerando a luta de classe.

ac24horas – Um renomado instituto fez uma pesquisa na qual uma das perguntas era assim: o que é política? Nove de cada 10 entrevistados disseram que era ‘coisa de bandido’. Como o senhor interpreta isso, levando em consideração as recentes manifestações de ruas?

Elder Andrade – Estamos vivendo uma crise de representatividade na classe política e em algumas instituições. A política é intrínseca ao ser humano. É a principal ação deste os gregos. A política surge da necessidade de dialogar e de equacionar interesses. Para participar da política é preciso ter grandeza, espírito público e causas para defender na sociedade. É uma arte e vocação feitas para grandes homens. É uma atividade nobre para expor e debater ideias. A imensa maioria dos políticos não defende a coletividade. Estão lá com propósitos nada republicanos. Daí a frustração e indignação das pessoas.

ac24horas – Mudando de assunto. Como o senhor analisa o atual sistema educacional brasileiro?

Elder Andrade – Nenhum país atingiu etapas de desenvolvimento sem investir maciçamente em educação. Não se pode pensar educação se não tivermos um projeto de nação. Falta investimento que não são apenas prédios e 10% do PIB destinador para o setor. É preciso investir da base à universidade. Os professores que saem da academia não estão suficientemente preparados para ensinar na educação básica.

ac24horas – Nos governos de FHC e Lula houve um crescimento econômico. Nestes quase 16 anos de governo petista no Acre, ao contrário do Brasil, o Estado estagnou e amarga o pior PIB entre os entes da federação. Por que isso acontece?

Elder Andrade– Associar as bandeiras do PT às causas ambientalistas foi um equívoco. O Acre ficou preso a uma concepção baseada no neo-extrativismo. Também não fizeram uma leitura correta do zoneamento ecológico-econômico. Esse estudo mostrar as potencialidades e fragilidades de cada micro e grandes regiões do Estado. As regiões acreanas têm vocações econômicas distintas, povos indígenas e ribeirinhos distintos, etc.

O autor é jornalista

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Acre

Arlete Amaral se desliga do cargo de vereadora e assume Secretaria de Assistência Social em Brasiléia

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Vereadora e Vice-Presidente do Legislativo Municipal abandona mandato para encabeçar a pasta de Assistência Social

Nesta quarta-feira, 24 de abril, o município viu uma mudança significativa na gestão de sua Secretaria de Assistência Social. Arlete Amaral, vereadora e vice-presidente do poder legislativo local, foi empossada no cargo, substituindo Djahilson Américo, que deixou a função para buscar uma vaga no legislativo como pré-candidato a vereador.

A transição exigiu que Arlete se desligasse de suas responsabilidades como vereadora, passando o posto para seu suplente, João Rocha. Essa movimentação política, embora rotineira em certos aspectos, traz consigo implicações importantes para a dinâmica política do município.

Enquanto Djahilson Américo se lança em uma nova empreitada política, buscando representar os interesses da comunidade no poder legislativo, Arlete Amaral assume uma nova responsabilidade administrativa. Sua entrada na Secretaria de Assistência Social demonstra uma mudança de foco e prioridades, colocando-a no centro das ações voltadas para o bem-estar e desenvolvimento social da população local.

Em entrevista, Arlete expressou sua determinação em fazer uma gestão eficiente e voltada para as necessidades reais da comunidade, destacando a importância do trabalho em equipe e da colaboração com outros órgãos e entidades sociais.

Surpreendendo muitos, Arlete também anunciou que não pretende mais se candidatar ao cargo de vereadora, optando por se dedicar integralmente à sua nova função na Secretaria de Assistência Social.

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MPAC discute profissionalização e escolarização da população em situação de rua

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O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio da Promotoria de Direitos Humanos, com apoio do Núcleo de Apoio e Atendimento Psicossocial (Natera), reuniu-se na última quarta-feira (24) com representantes da Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Estadual de Assistência Social, Senai, Ieptec, Movimento Nacional da População em Situação de Rua e Centro Pop para discutir ações de profissionalização e escolarização da população em situação de rua.

A reunião, conduzida pelo promotor de Justiça Thalles Ferreira Costa, teve como objetivo principal buscar soluções para garantir o acesso à educação e ao trabalho para esse público vulnerável. De acordo com representantes da população em situação de rua, existe um cadastro com quase 70 pessoas que já possuem experiência em alguma área e/ou precisam de cursos para requalificação profissional, além de outros que desejam participar de curso de alfabetização.

Na ocasião, Senai e Ieptec se colocaram à disposição para oferecer cursos profissionalizantes gratuitos para esse público, com acompanhamento do MPAC e outros parceiros na iniciativa. O MPAC também buscou, em diálogo com a Secretaria Municipal de Educação, a reativação de um projeto de educação no Centro Pop para promover alfabetização para esse público, com oferta de professor, alimentação, material didático e transporte para os alunos.

“Nosso objetivo é reunir possíveis parceiros e buscar alguns compromissos para avançar em pautas como educação e profissionalização, que são extremamente importantes para garantir a dignidade das pessoas em situação de rua”, destacou o promotor de Justiça.

Fotos: Gabriel Vitorino (estagiário)

Fonte: Ministério Publico – AC

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Prefeitura de Rio Branco participa de seminário sobre leitura e escrita na educação infantil

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A Prefeitura de Rio Branco participou, no auditório do Detran, nessa terça-feira (23), da abertura do seminário “O Leei e as experiências de leitura das crianças na educação infantil”. O Leei é um programa de leitura e escrita na educação infantil.

O seminário formativo é realizado pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), em parceria com as prefeituras e a Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE). A formação dos professores acontecerá até quinta-feira, dia 25 de abril, sob a responsabilidade dos professores Nadson Araújo dos Santos e Tatiane Castro dos Santos, ambos da Ufac.

A professora Gleice Souza, diretora de Ensino da SEE, explicou que a formação é voltada para os professores da educação infantil, onde o MEC, com o apoio da rede estadual – que também fez a adesão ao Compromisso Criança Alfabetizada – e das redes municipais, realiza um trabalho com o foco voltado para a política territorial.

“O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada foi lançado em 2023. Então, iniciamos esses processos formativos, que já realizamos no interior e agora temos aqui equipes das escolas de Rio Branco, os nossos coordenadores, para discutirmos o Leei”, disse.

A diretora explicou ainda que um dos objetivos do Leei é colocar o aluno em contato com a leitura de maneira lúdica, de maneira prazerosa.

A professora Tatiane Castro reforçou que o Leei faz parte da Política Nacional de Alfabetização, cujo objetivo é formar os professores da educação infantil, especialmente os professores dos 4º e 5º anos do ensino fundamental, anos iniciais.

“Essa formação é importante para que eles possam trabalhar questões de linguagem, de leitura e de escrita na educação infantil, com o objetivo de fazer com que os professores possam desenvolver práticas de leitura e escrita efetivas com as crianças”, salientou.

A secretária Municipal de Educação, Nabiha Bestene, destacou a formação dos professores da educação infantil como “importantíssima”.

“As crianças estão iniciando a fala, a escrita, estão na fase de crescimento, e houve prejuízos na pandemia. Agora, estamos tentando recuperar com essas formações, atualizando e qualificando as pessoas”, enfatizou.

Fonte: Prefeitura de Rio Branco – AC

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